Pressentimento de sucesso em sua busca: Impressão pela luz do Sol. Hércules Florence escreveu sobre o invento da Fotografia longas páginas, detalhando todos os passos do trabalho e os resultados.
"Neste ano de 1832, no dia 15 de agosto, estando a passear na minha varanda, vem-me à idéia que talvez se possam fixar as imagens na câmara escura, por meio de um corpo que mude de cor pela ação da luz. Esta idéia é minha, porque o menor indício nunca antes tocou o meu espírito. Vou ter com Joaquim Correa de Mello, boticário do meu sogro, homem instruído, que me diz existir o nitrato de prata. Dei-me pois, a fazer experiências onde tudo me sai perfeitíssimo quanto à gravura sobre o vidro. Quanto a câmara obscura fixei a negativa da vista da cadeia, um busto de La Fayette, etc. O Sr. Mello me ajuda a formar a palavra: Photographia".
Hércules Florence (Em L'Ami des Arts, fl. entre 42 e 79).
Fotografias de H.Florence: impressão à luz do sol
Era um processo científico que se fazia metodicamente a cada passo da descoberta, anotado minuciosamente. Acreditava que chegaria à impressão pela ação da luz, o que realmente conseguiu. Nas anotações do dia 15 de janeiro de 1833 ele relata os estudos e a esperança em encontrar resultados positivos.
As fotos que acompanham este texto (acima e abaixo) são das fotografias originais de Hércules. Porisso tem as manchas, que são as marcas do tempo e do material utilizado.
Fotografias de H.Florence: impressão à luz do sol
"Creio antever que um dia se imprimirá pela ação da luz. Toda gente sabe
que a luz descolore os objetos; vi, pelo menos, que isso acontece com as dobras
das peças de indianas expostas à claridade. Se eu fosse químico, talvez
conhecesse uma substância susceptível de colorir-se ou descolorir-se à ação
da luz, ou de mudar de cor, ou de escurecer. A única substância que sei
possuir a virtude de enegrecer ao sol, mas que seria preferível a tudo, é a
que de preta se tornasse branca, ou cuja cor, ao menos, se tornasse facilmente
mais clara. Ora, se assim acontecesse, como creio, colocar-se-ia uma folha de
papel, ou outro qualquer corpo de superfície lisa, coberta de uma camada dessa
substância, numa câmara escura.
A própria escuridão dessa câmara seria favorabilíssima, para impedir a descolorização que se
deveria conservar intacto; as meias tintas favoreceriam a descoloração só
pela metade e as claridades do objeto que seria representado na câmara escura,
apresentando-se formadas pela própria luz, esta descoloriria perfeitamente
nesses lugares. Dessa maneira, sendo a ação da luz proporcional à sua
intensidade sobre a citada superfície, o objeto permaneceria nela representado,
mesmo após ter sido retirado da câmara escura. Ele não estaria caracterizado
pela coloração, mas suas diferentes tintas lhe marcariam a aparência."
(Manuscrito "Correspondence" n. 1, p. 132)
(Hércules Florence)