16. A Câmera Escura

Descobrimento Importantíssimo

Nas páginas de seu diário Hercules Florence escreve "descobrimento importantíssimo". A importância do texto, é tão forte, que o deixamos na íntegra, na forma escrita no original. Ele se referia ali a uma experiência realizada em 1832. Assim está em seu manuscrito:

Esquema dos instrumentos da Fotografia

Esquema dos instrumentos da Fotografia: onde já está definido o formato da câmera e dos fotogramas.


"20 de janeiro. Domingo. 1833"
Descobrimento importantíssimo.

"20 de janeiro. Domingo. 1833"
Descobrimento importantíssimo.

"O que eu disse no artigo precedente, datado de 15, acaba de confirmar-se hoje, mediante duas felicíssimas experiências."

"1a. Experiência. Fabriquei muito imperfeitamente uma câmara escura, utilizando uma caixinha, que cobri com minha paleta, em cujo orifício introduzi lente que pertencera a um óculo (estas minúcias evidenciam a precariedade dos meios). Coloquei o espelho e, a conveniente altura, dentro pus um pedaço de papel embebido de fraca dissolução de nitrato de prata. Depositei esse aparelho numa cadeira, em sala naturalmente escura. O objeto que se representava na câmara escura era uma das janelas, com a vidraça fechada: viam-se os caixilhos, o teto duma casa fronteira e parte do céu. Aí deixei isso durante 4 horas; em seguida, fui verificar e (...il.), retirado o papel, nele encontrei a janela fixamente representada, mas, o que devia mostrar-me escuro, estava claro, e o que devia ser claro, apresentava-se escuro.

"Quando eu procurava o resultado que obtive na outra experiência, sem cogitar do feliz descobrimento a que chegara nesta última, havia preparado minha câmara escura e a expusera ao sol, no jardim (...il.) não estava a uma distância (idem) do papel, por causa do mau aparelho, de sorte que os objetos ficaram mal desenhados no papel, o que nem por isso deixava de contentar-me. Contudo, notavam-se aberturas que permitiram a penetração dos raios do sol no papel; fora do foco da lente, tais raios enegreceram a olhos vistos o lugar em que incidiram, e isto me fez, sem perda de tempo, retirar o papel; no tocante à paisagem, nada tinha restado, porque ela mal se fazia aparente, havendo, ademais, demasiada luz na câmara escura. Mas, à vista do papel enegrecido nos lugares em que o sol batera, nasceu-me a idéia seguinte, cujo resultado previ tão seguro quanto o foi, com efeito, depois da experiência.

E depois, p. 132v., 133, 133v.:

Tomei um pedaço de caixilho, escureci-o à fumaça de uma candeia e nele escrevi, com um buril muito fino, estas palavras: "Empresta-me teus raios, ó divino sol". Ajeitei, em baixo, um fragmento de papel, preparado como já tive o ensejo de dizer, e o expus ao sol. Dentro de um minuto, as palavras aí se fizeram visibilíssimas e com maior primor possível. Lavei imediatamente, e durante muito tempo, o papel, para evitar que seu fundo também escurecesse. Deixei-o ao sol, por uma hora, e o fundo do papel adquiriu leve cor. Contudo, o que nele estava escrito continuou sempre inteligível, conservando-se assim o papel, por vários dias, até que simples curiosidade de saber qual seria a ação do calor numa débil porção de nitrato de prata, me induzisse a queimá-lo.

Incríveis vantagens trará esse descobrimento. O aparelho reduz-se a um pedaço de vidraça, e os ingredientes, a uma dissolução de nitrato de prata.

Imprimir-se-á no maior tamanho que se queira, e com bem mais capricho do que o visto na gravura, que é a melhor arte para produzir o belo."

(Hércules Florence)