Rio Amazonas
Depois de se recuperar de muita febre em Santarem, e esperar o companheiro de viagem, Sr. Riedel, dirige-se ao Pará para depois seguirem caminho de retorno ao Rio de Janeiro. O clima era de dupla euforia: navegar pelo Amazonas, e o retorno.
"A bordo da goleta mercante, partimos para a cidade de Belém no dia 1o. de setembro de 1828. Abrindo velas à fagueira brisa, depressa deixamos de avistar Santarém com seus navios ancorados e suas duas torres, entrando em cheio no imenso Amazonas. A gosto se me dilatava o peito, navegando em alterosa embarcação naquele rio que tanto tem de largo quanto muitos da Europa de comprido, avistando grandes ilhas a correrem, chatas e extensas como pontões gigantescos cobertos de luxuriante vegetação, avistando a Guiana, admirando o movimento das ondas como em pleno oceano, e de vez em quando tendo ante os olhos um horizonte em que o céu se confundia com as águas do grande caudal. Poucos dias depois de entrados nele e em lugar muito largo e semeado de baixios e escolhos, tivemos que suportar as fúrias de um furacão equatorial. A trovoada não cessava e o vento soprava rijo. Nestas condições caiu densa noite. Eis senão quando o proeiro deu um grande grito em guarani: Ita! (pedra). Não houve tempo senão de fazer força no leme. Mais dois minutos, estava o barco perdido. Deitamos então âncora ao fundo, mas o rio parecia o mar em fúria, quebrando-se em vagalhões e espumando, e, como pela correnteza, o navio não podia pôr povo ao vento que soprava de NE, recebíamos de flanco as vagas de modo mais incomodativo. Tão fortes eram os balanços, tão rápidos, que me era impossível ficar na rede, pelo que subi ao tombadilho, donde presenciei toda aquela cena de furor. Tão altos se elevavam os cachões, que uma falua que ficava próxima de nós, parecia querer vir se atirar dentro da goleta, subindo e descendo com o movimento das águas a seis metros de altura.
"Às 9 horas tudo entrou em calmaria. A trovoada dissipou-se; o rio voltou à primitiva tranqüilidade. E o ar refrigerado soprou suavemente."
(Hércules Florence)