2. Rumo a São Paulo, Itu e Porto Feliz

Cubatão

Cubatão

Foi ainda por mar, desta vez em pequena embarcação, que Hércules deixou a capital do país, em direção ao porto de Santos para adentrar-se ao interior paulista, de onde sairia a Expedição: do Rio Tietê, mais precisamente, Porto Feliz.

No trajeto tudo era minuciosamente observado e anotado pelo jovem viajante. A beleza do por do sol no itinerário de Santos a Cubatão, os alojamentos de beira de estrada, a vegetação, os caminhos, os passantes, a organização das vilas e cidades, enfim, tudo era novo e importante para seu olhar.

Pinheiros a caminho de Jundiaí

Pinheiros próximos de Jundiaí

As imagens ficavam impregnadas em suas retinas, em sua memória, como no filme fotográfico: mais tarde seriam reveladas em forma manuscrito, ou desenhadas, em seu diário de bordo.

Casa rústica nos arredores de São Paulo

Desenho:
Casa rústica nos arredores de São Paulo.
Hércules Florence

Era 1825, escreveu ele sobre São Paulo.

"No dia seguinte, chegamos, com uma légua de marcha, a São Paulo, cidade que tem 12.000 habitantes e algumas ruas não feias. O palácio da presidência é um edifício insignificante; a cadeia vasta, mas mal construída e tão pouco sólida que não raro dela fogem os presos. É capital da província, residência de um presidente, de um comandante de armas e sede do bispado. Tem um ouvidor e um juiz de fora da comarca de São Paulo. A guarnição sobe a 900 praças de caçadores, todas nascidas na província e que dela não saem, senão em caso de guerra".

Temperamento dos Habitantes

Os habitantes de São Paulo, como em geral os de toda a província, são tidos entre os brasileiros por valentes e rancorosos. Com efeito o são comparativamente. Há exemplos de atos atrozes praticados por paulistas para saciarem a sede de vingança, sendo quase sempre mulheres a causa dessas desordens. Hospitaleiros, francos e amigos dos estrangeiros, são em extremo sóbrios, bebem muito pouco vinho, e mantem mesa simples, mas agradável."

A Hospitalidade

"Fui hospedar-me em casa de um parente dos meus dois companheiros de viagem, primeiro teto brasileiro em que fruí as doçuras da hospitalidade e daí por diante tive sempre ocasião de reconhecer os cuidados afetuosos e tocantes com que o povo brasileiro exercita este dever de caridade. Sem dúvida alguma é ele muito mais hospitaleiro do que qualquer outro da Europa e há sua razão para isso. Aqui a terra produz muito mais alimento do que podem os habitantes consumir. Mesmo no Brasil já não há hoje nas cidades marítimas tanta facilidade de vida, não só pelo aumento de população, afluência de estrangeiros, como pelo luxo próprio dos grandes centros".

As Comidas

"As principais comidas são frango, leitão assado ou cozido e ervas, tudo porem acepitado com um condimento que excite o apetite. Não comem pão: em seu lugar usam da farinha de milho ou de mandioca que sabem preparar com perícia, alva como leite, e muito boa ao paladar."

Hotéis e Hospedarias

"Há hotéis e hospedarias: no interior é coisa que não se encontra. O viajante sabe que em qualquer parte em que houver um morador, há de ser por ele acolhido e tratado, não tendo mais do que apresentar-se à sua porte."